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quarta-feira, abril 24, 2024
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Florianópolis homenageia sesquicentenário de Cruz e Sousa

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Florianópolis homenageia sesquicentenário de Cruz e Sousa

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Injustiçado no século 19, na antiga Desterro (atual Florianópolis), João da Cruz e Sousa teve uma vida marcada pelo sofrimento e o preconceito antes de ser respeitado mundialmente por suas obras. O escritor catarinense, introdutor do Simbolismo no Brasil, recebe homenagens nesta quinta-feira (24/11), data em que faria 150 anos. As comemorações iniciam a partir das 6h30, com a intervenção artística Um Abraço Negro, no Terminal de Integração do Centro, prosseguindo ao longo do dia com várias atividades pela cidade. À noite, no Palácio Cruz e Sousa, às 18h30, acontece o lançamento do selo e carimbo alusivos ao sesquicentenário do poeta, nascido em 1861.

A programação, sob coordenação da Prefeitura de Florianópolis, é promovida por meio do Grupo de Articulação – 150 Anos de Nascimento do Poeta Cruz e Sousa, formado por instituições públicas federais, estaduais e municipais, além de organizações privadas e entidades não governamentais. Iniciada em outubro, a agenda cultural pretende dar visibilidade ao escritor catarinense, proporcionando à população oportunidades de conhecer a obra e a trajetória deste conterrâneo ilustre que nasceu e morou na cidade boa parte de seus 36 anos de vida.

Um abraço negro

A programação alusiva ao sesquicentenário começa às 6h30, no Ticen, ao som de atabaques e cantos da cultura afro-brasileira, evocando Cruz e Sousa, que era negro, filho de escravos libertos, e homenageando a ancestralidade africana. O público que transitar pelo local no intervalo de uma hora será convidado a dar um abraço nos integrantes do Coletivo Nega (Negras Experimentações Grupo de Arte). O grupo é formado por atores e atrizes afrodescendentes, vinculados ao Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina (Ceart/Udesc).

Para cada sessão de abraços, os artistas retribuirão com poesias de Cruz e Sousa, em flyers e ao vivo. Em alguns momentos, o público vai receber também a visita do “espírito” do poeta, que estará circulando pelas plataformas, ao som de atabaques tocados por ogãs – em religiões de matrizes africanas são eles que ajudam a canalizar as energias para comunicação com o mundo espiritual. O ator JB Costa é quem interpretará o escritor catarinense, declamando alguns poemas.

Durante toda a manhã, o personagem-escritor circulará pelas ruas centrais, em especial no entorno da praça 15 de Novembro, que vai estar enfeitado com banners de homenagem com os dizeres “Cruz e Sousa do Desterro, Florianópolis te abraça”. Às 10h, o vereador Márcio de Souza (PT) repete o gesto tradicional de depositar uma coroa de flores no busto do poeta catarinense instalado na Praça 15 de Novembro, com música e poesia. Ao meio-dia, o Coletivo Nega volta a se apresentar com a perfomance Um Abraço Negro. A apresentação será no Largo da Catedral, e às 17h, no calçadão das Felipe Schmidt, nas imediações do Palácio Cruz e Sousa.

Selo e carimbo em noite de homenagens

O ponto alto das comemorações acontece a partir das 18h30, no Palácio Cruz e Sousa, quando serão lançados o selo e o carimbo em comemoração aos 150 anos de nascimento do Poeta do Simbolismo. Produzido pela Empresa de Correios e Telégrafos, o material será utilizado nas correspondências da Secretaria Municipal de Educação, e destinado para uso didático nas unidades de ensino da Capital.

O selo traz uma imagem de domínio público, de Joseph Bruggemann, que retrata a paisagem urbana de Florianópolis, então Desterro (1868), e em sobreposto traz a imagem de Cruz e Sousa. O projeto foi apreciado pela Associação Catarinense de Filatelia e Diretoria dos Correios em Santa Catarina, além de ter sido aprovado pelo Grupo Articulador – 150 Anos de Nascimento do Poeta Cruz e Sousa.

Já o carimbo permanecerá 30 dias na agência dos Correios, localizada na Praça 15 de novembro, conforme critérios do Conselho Nacional de Filatelia, sendo utilizado em todas as correspondências desta agência de 24 de novembro a 24 de dezembro. Após este período, será remetido a Brasília para compor o acervo filatélico nacional. Foram adquiridas pelo Município seis réplicas do carimbo, destinadas a autoridades e instituições.

A programação contempla ainda apresentação da banda da Polícia Militar de Santa Catarina e terá também a participação da cantora Maria Helena, interpretando músicas ligadas à negritude. O ator JB Costa declamará os poemas “Vida Obscura” e “Acrobata da Dor”, de Cruz e Sousa e a atriz Solange Adão interpretará uma música em ioruba – linguagem de origem africana. O simbolista será evocado novamente com “O Assinalado”, recitado por Leonardo Batz. Encerrando as atividades será lançado, às 20h, o demo do game Cruz e Sousa – O Poeta do Desterro, produzido por alunos e funcionários do Programa SC Games.
O Grupo de Articulação é formado pela Fundação Franklin Cascaes (FCFFC); Secretaria Municipal de Educação (SME); Coordenadoria Municipal de Promoção de Políticas Públicas para a Igualdade Racial (Coppir); Secretaria Municipal de Transportes, Mobilidade e Terminais (SMTMT); Instituto Énrea; Fundação Catarinense de Cultura (FCC); SC Games; Câmara Municipal de Vereadores; Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc); Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Academia Catarinense de Letras (ACL); Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (IHGSC); Associação Catarinense de Imprensa (ACI), e Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos/SC.

Cruz e Sousa no videogame

Outro destaque na programação é o lançamento do demo de um game que está sendo produzido sobre Cruz e Sousa, com o objetivo de popularizar a obra do escritor catarinense, principalmente entre os adolescentes, que muitas vezes não compreendem a poesia simbolista e ignoram a história e as origens do escritor, que nasceu na Ilha de Santa Catarina.

Para atingir essa faixa etária e despertá-la para um tema aparentemente enfadonho como a literatura do século 19, jovens de 14 a 17 anos do Projeto Novos Talentos, do Programa SC Games, estão pesquisando sobre Cruz e Sousa para desenvolver uma linguagem atraente utilizando uma ferramenta moderna. Esse é terceiro demo de jogo eletrônico produzido no projeto, mas é o primeiro que aborda um tema de Santa Catarina. Com base na pesquisa, realizada com apoio da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes, os estudantes produziram um demo de cinco minutos, que será testado pelo público participante do evento no Palácio Cruz e Sousa.

Todo o roteiro e animação foram realizados pelos integrantes do projeto, em pouco mais de 30 dias, sob coordenação da professora Márcia Battistella. De acordo com a história, crianças em visita ao Palácio Cruz e Sousa, para um evento em comemoração ao aniversário de nascimento do poeta, encontram uma poesia perdida, que está incompleta. Curiosas, elas iniciam uma busca pelo museu para encontrar as palavras que faltam e assim compreender a obra. A poesia escolhida foi Aparição, do livro Broqueis (1893).

No game, o jogador deve encontrar elementos pelo cenário para completar uma das poesias de Cruz e Sousa, podendo ser jogado por crianças a partir de sete anos. A ideia é aperfeiçoar o projeto e ampliar o jogo dividindo-o em fases e níveis de dificuldade, oferecendo uma ferramenta didática tanto para os alunos envolvidos na produção, quanto para aqueles que vão brincar com o jogo.

O Projeto Novos Talentos tem como objetivo despertar o interesse de jovens de baixa renda para a programação para jogos digitais e arte digital (animação), estimulando habilidades e preparando talentos para do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação, em especial, games e entretenimento digital e cinema de animação. Com 300 horas de curso, o projeto é vinculado ao Programa SCGames, realizado pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável em parceria com o Centro de Informática e Automação de Santa Catarina (Ciasc).

O Poeta do Desterro

O mestre do simbolismo no Brasil nasceu em Desterro, em 24 de novembro de 1861. Negro, filho dos escravos libertos Guilherme da Cruz e Carolina Eva Conceição, foi educado com ajuda dos ex-senhores da família – o Marechal Guilherme Xavier de Sousa e sua esposa Clarinda –, que deram a João da Cruz o sobrenome Sousa da família. Estudou no Ateneu Provincial Catarinense, onde aprendeu francês, latim e grego, dedicando-se também à matemática e às ciências naturais. Aos 20 anos ingressou no jornalismo e trabalhou nos jornais Colombo, O Moleque e a Tribuna Popular, junto com o escritor e amigo Virgílio Várzea, com quem publicou o primeiro livro: Tropos e Fantasias, em 1885.

Negro numa sociedade escravocrata, o escritor viveu uma espécie de exílio em sua terra natal, enfrentando dificuldades financeiras, sofrimentos familiares e a discriminação da sociedade. Foi incompreendido por seus versos simbolistas e pela poética que o colocou ao lado da vanguarda francesa. Por sua obra inovadora foi rejeitado pela Academia Brasileira de Letras, além de ser acusado de ter vergonha de ser negro. Engajado nas lutas de seu tempo, o poeta militou contra a escravidão e, por sua origem, foi recusado para ocupar o posto de promotor na província de Laguna.

Cruz e Sousa mudou-se para o Rio de Janeiro em 1890, e lá conheceu Gavita Rosa Gonçalves, também negra, com quem se casou. Teve com ela quatro filhos, que morreram cedo vítimas da tuberculose. A doença também vitimou o escritor levando-o à morte em Minas Gerais, aos 36 anos de idade, em 19 de março de 1898. O corpo de Cruz e Sousa foi transportado para o Rio de Janeiro num vagão para transporte de animais. Em 2007, os restos mortais do escritor foram trasladados pelo governo catarinense e depositados no Museu Histórico de Santa Catarina – Palácio Cruz e Sousa.

Entre as obras do escritor destacam-se Missal (1893, prosa poética), Broquéis (1893, poesia), com a qual deflagrou o Simbolismo no Brasil, liderando um movimento de renovação literária que se estendeu até 1922. Após sua morte, foram publicados os livros Evocações (1898, prosa), Faróis (1900, poesia) e Últimos Sonetos (1905, poesia), que deram ao poeta negro o reconhecimento internacional.

Programação

Quinta-feira (24/11)

6h30
Um Abraço Negro – intervenção artística do Coletivo Nega
Local: Terminal de Integração do Centro (Ticen)

10h
Colocação de coroa de flores no busto de Cruz e Sousa
Música e Poesia
Local: Praça 15 de Novembro – Centro

12h
Um Abraço Negro – intervenção artística do Coletivo Nega
Local: Largo da Catedral – Centro

17h às 18h
Um Abraço Negro – intervenção artística do Coletivo Nega
Local: Calçadão da Rua Felipe Schimidt c/ Rua Trajano
Imediações do Palácio Cruz e Sousa – Centro

18h30
Lançamento do selo e carimbo Cruz e Sousa – 150 anos
Declamação de poesias, música, intervenções teatrais
Lançamento do game Cruz e Sousa – o Poeta do Desterro
Local: Palácio Cruz e Sousa
Praça 15 de Novembro nº 227 – Centro

23h
Serenata no Busto de Cruz e Sousa
Local: Praça 15 de Novembro – Centro

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