O Brasil terá na temporada 2009/2010 de cruzeiros marítimos pelo menos 1.441 escalas de navios de passageiros, ante as 949 registradas no último ano. No entanto, mesmo com esse significativo aumento de 51%, um dos principais pontos turísticos do País ficará de fora da festa dos cruzeiros. Trata-se de Florianópolis, capital de Santa Catarina. A péssima infraestrutura local foi decisiva para a cidade de mais de 400 mil habitantes ser excluída das rotas das principais empresas. Para piorar a situação, a exclusão tende a se repetir nos próximos anos.

Na opinião de Ernesto São Thiago, diretor da Associação Brasileira de Terminais e Cruzeiros (Brasil Cruise) e um dos idealizadores do Porto Turístico Internacional de Santa Catarina (projeto que visa a construção de um moderno terminal de cruzeiro marítimo na capital catarinense), Florianópolis não receberá navios de passageiros neste ano por ter, segundo palavras do próprio Ernesto, um píer turístico medíocre, em péssimas condições de uso e sem a mínima segurança para os passageiros. Mesmo assim, seis escalas ocorreram na temporada 2008/2009.

“Isso sem contar o nosso ponto de fundeio, localizado na entrada da Baía Norte e que fica sujeito às variações climáticas. Uma ondulação ou vento mais forte impede não deixa que o tender [embarcação que transporta os passageiros do navio para a terra firme] consiga atingir a praia com segurança. Recentemente, a CVC Cruzeiros não conseguiu reembarcar passageiros e sofreu diversas ações judiciais por conta disso. O comandante de um transatlântico chegou a afirmar que Florianópolis, com as condições atuais, foi a pior escala que já operou na vida”.

O consultor internacional do ramo náutico Cláudio Brasil do Amaral concorda com os motivos apontados por Ernesto São Thiago e lamenta a exclusão da capital de Santa Catarina das escalas em 2009 e 2010. Porém, ele também entende que Florianópolis não tem estrutura adequada para atender a demanda. Cláudio critica a inoperância das autoridades marítimas brasileiras e destaca que de nada adianta reconhecer a importância dos cruzeiros marítimos para a economia nacional se uma infraestrutura capaz de abrigar as embarcações não sai do papel.

“Existem planos e projetos, não faltam recursos privados e até públicos, mas a ignorância, mãe de todos os males, afeta qualquer iniciativa náutica deste porte. É um tabu incompreensível. No Brasil, com mais de 30 portos organizados e com áreas já determinadas para revitalização e uso turístico, incluindo os cruzeiros, infelizmente ainda continuamos num sistema feudal, comandado por um núcleo em cada porto, que é trocado com uma periodicidade espantosa conforme preferências políticas e tudo que se planeja, se investe, volta à estaca zero”.

Enquanto em Florianópolis o clima é de fim de festa em pleno início de temporada, outras cidades celebram a chegada dos navios. No Nordeste, por exemplo, Salvador comemora o crescimento de 353,19% no número de turistas. Em 2004/2005, foram 45 mil passageiros. Já entre 2008 e 2009, o número saltou para 203 mil. Ilhéus, por sua vez, espera bater seus recordes. Apesar da Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas (Abremar) divulgar que ocorrerão por lá 42 escalas, as autoridades baianas entendem que o número pode chegar a 48.

Confira abaixo os números da última temporada e as projeções para a época que se inicia agora e acabará somente em 3 de maio de 2010. Vale lembrar que entram no quadro somente cruzeiros de cabotagem, com origem e destino na costa brasileira. Destaque, principalmente, para o crescimento de 74% e 61%, respectivamente, nas escalas do Rio de Janeiro e Búzios, e para a estreia dos navios de passageiros no Porto de Cabedelo, na Paraíba.

Confira no PortoGente a relação completa de escalas para a temporada 2009/2010.

Por Bruno Rios reportagem Porto Gente