Tudo começou com três paredes em branco. Elas estavam lá, faziam parte da paisagem do centro histórico de Florianópolis e passavam desapercebidas. De junho para cá elas assumiram forma, cor, identidade e despertaram o interesse do cidadão, do fotógrafo, do transeunte. A transformação dos “rabiscos” em arte foi registrada pelo professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Fernando Crocomo, pela primeira vez em 5 de junho deste ano. Era um retrato de João da Cruz e Sousa nascendo próximo à Catedral Metropolitana e ocupando as paredes alvas do edifício João Moritz.
Ao lado do Palácio (Museu Histórico de Santa Catarina), local que leva o mesmo nome do poeta, Rodrigo Rizo pintou a obra, em preto e branco, que soma 900 metros quadrados chamada de ‘Mural Cisne Negro’, compreendendo uma imagem do poeta, um cisne negro estilizado (que remete a alcunha do poeta de Dante Negro ou Cisne Negro) e o poema ‘Enlevo’.
O lançamento do mural será realizado nesta quinta-feira, 11 de julho, a partir das 18 horas, no jardim do Palácio Cruz e Sousa. A entrada é gratuita e haverá performance e leitura de poemas de Cruz e Sousa (1861 – 1898), ícone da literatura catarinense e precursor da poesia simbolista no Brasil.
Zilma Gesser Nunes, professora do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas (LLV/UFSC), explica que a obra despertará a curiosidade da população pelo poeta, dadas as proporções e a localização da pintura. “Colocar Cruz e Sousa em um painel na Praça XV, é dar visibilidade para o poeta de maior expressão da literatura catarinense e um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos. É uma dívida que se paga a Cruz e Sousa, que precisou, em 1889, transferir-se para o Rio de Janeiro, em busca de inserção literária. Homenagem tardia, mas merecida e necessária”.
Na UFSC, a obra de Cruz e Sousa é abordada pelo curso de Letras por meio da disciplina optativa “Literatura em Santa Catarina”, procurada por um número expressivo de estudantes interessados pelo tema. Para Nunes, tratar de Cruz e Sousa no curso é fundamental para a formação de futuros professores de Literatura. “Estamos formando propagadores, que poderão levar o nome do poeta e a boa literatura ao jovem estudante”.