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sexta-feira, março 29, 2024
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Bancas do Centro de Florianópolis diversificam produtos e resistem à queda no número de leitores

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Bancas do Centro de Florianópolis diversificam produtos e resistem à queda no número de leitores

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Continuação da parte 1

Banca Beira-mar

Acelino Nunes Lopes abriu a banca Beira-mar, na Praça dos Namorados, em 1977. Logos depois, a família vendeu o estabelecimento, que passou por muitas mãos até voltar ao controle de Acelino, 67, mulher e filha, 26, que hoje é a dona do negócio. Desde 2003, eles se revezam na administração da banca, diariamente, das 8h30 às 19h na baixa temporada e das 8h30 às 20h, no Verão.

"Faz 40 anos que mexo com esse negócio, que mudou muito. Antes, vendíamos revistas e jornais às pilhas. Hoje em dia, as próprias publicações precisam incluir brindes aos leitores para sobreviver. Semanários como ‘Manchete’ e ‘O Cruzeiro’ vendiam dezenas e dezenas de exemplares cada. Agora, da ‘Veja’, que é a de maior circulação, chegam apenas 30 unidades por semana", explica Acelino.

O ponto, reconhece Acelino, é excelente. "A banca sobrevive do alto poder aquisitivo dos moradores da região. O prefeito, o vice, o governador, deputados e senadores, quando estão por aqui, vêm comprar jornais e, principalmente, revistas. Mas, como a diversidade de produtos é enorme, tem revistinha por 99 centavos."

Acelino faz críticas às distribuidoras: "A distribuição ainda é rudimentar. Deveria ser informatizada. na quinta-feira (3/10), por exemplo, devolvemos exemplares de 62 publicações que não venderam, e recebemos mais de 70. O controle disso tudo é feito à mão. E as distribuidoras não têm interesse em tornar essa gestão mais eficiente, já que, se eu não entregar um exemplar, tenho de pagá-lo. E quando você encontra no dia seguinte uma revista perdida que deveria ter sido entregue? Você acha que a distribuidora a aceita? E tem mais: a gestão disso tudo consome pelo menos meio período do dia. É bem trabalhoso".

Acelino, porém, é otimista. "Ainda não descobri como trazer para dentro da banca esse público que agora consome notícias no digital. Mesmo assim, não vejo com ressentimento as mudanças no mercado. Adaptação é a palavra-chave. Não posso me revoltar contra o mundo, tenho é de andar com ele. É até bacana para a gente, porque né desafiador, não?".

Banca Gama D’eça

Valdemiro Alves, 51, não tem dúvidas: "Hoje em dia não é mais um bom negócio ter uma banca de jornal. É imposto para pagar, pouca margem de lucro, relação desigual com as distribuidoras. Não é o meu caso, mas a maioria dos jornaleiros precisa pagar aluguel, luz, água etc. do ponto". Alvez abriu a Banca Gama D’eça em 1981, e desde então nunca se afastou do negócio. Há pouco mais de um mês, ganhou uma nova banca, pois a praça em que está localizada foi revitalizada pelo Koerich, e a banca antiga não se enquadrava no novo projeto paisagístico.

Para ele, as próprias distribuidoras não se empenham em manter as bancas de jornal como pontos de venda rentáveis. "Imagine que a revista chega aqui para eu vender por R$ 12. Aí a distribuidora faz promoção direta aos leitores, vendendo assinaturas em que, dividido o número de edições pelas parcelas, o preço da unidade cai para R$ 4. Quem virá até a banca comprar por R$ 12?". Outra falha: "Quando sai uma nova coleção de carrinhos, por exemplo, enviam 50 exemplares. No meio da coleção, porém, reduzem para 20 ou 30 – e quem começou a fazer a colecionar não consegue completar nunca".

Alves elege os supermercados e as panificadoras como vilões do seu negócio. "Revista em caixa de supermercado também deveria ser proibido. Os supers não precisam daquele lucro, já ganham bastante. Quem não tem de ir ao supermercado? Todo mundo. Aí, tá na fila e já compra a revista. Se a mulher compra o jornal e a revista no super, o marido não precisa mais vir à banca. O mesmo com a padaria. E assim vai."

Apesar de considerar ter banca de jornal um negócio "sofrido", ele não imagina parar. "Não pago aluguel, tenho uma minha clientela fiel – de gente com mais de 50 anos, que ainda lê jornal e revistas impressas, gosta de ter em mão e folhear -, vendo uniformemente quase todos os tipos de produtos – apesar de vender muito o que dá pouco lucro, como cartão de recarga."

Banca da Deodoro

Rua Deodoro, quase esquina com a Conselheiro Mafra, praticamente ao lado do Mercado Público. É nesta localização privilegiada, onde o trânsito de carros não é permitido e pedestres passam em grande número durante o dia inteiro, que fica a Deodoro Comércio de Revistas, popularmente chamada de Banca da Deodoro.

Santiago é quem atende no local e também é o proprietário, mas desde o momento da abertura da banca, às 8h, até o fechamento, às 19h, são raros os momentos em que ele está sozinho dentro do estabelecimento. Quando não tem alguém comprando algo, tem sempre alguém batendo um papo.

Apreciador da leitura, Santiago sempre puxa assunto sobre o material que está vendendo e, frequentemente, uma simples compra se transforma em uma longa conversa. Sem contar os amigos, que são clientes de longa data e estão sempre marcando presença.
A banca existe desde 1985, comprada em uma ‘’negociação de U$$ 50 mil dólares’’ pelo Seu Nilton, pai do Santiago, que deu inicio à atividade no local e hoje está aposentado.

"O que eu mais vendo aqui são os gibis e revistas infantis”, afirma Santiago, explicando que as vendas direcionadas ao público infantil são as maiores geradoras de lucro da banca. Sobre o impacto da internet nas vendas, ele explica que sentiu uma diminuição na comercialização de revistas e jornais depois que as empresas de comunicação começaram a disponibilizar o conteúdo de suas publicações na íntegra, mas nada muito significativo. “Os jornais e revistas de papel sempre terão muitos compradores”, afirma.

Santiago evita falar sobre valores, mas garante, com um sorriso no rosto, que dá pra viver bem com a renda mensal da banca. Casado, pai de três filhos, ele diz que o local ainda tem um longo futuro. ‘’Esta banca proporciona uma boa vida para a minha família e excelente educação para os meus filhos’’.

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