Metodologia: censo visual para contagem dos indivíduos
O relatório parcial do projeto ´Ilhas do Sul`, que pretende elaborar um diagnóstico sobre as comunidades de peixes próximas a cinco ilhas catarinenses, aponta que a fiscalização exercida na Reserva Biológica Marinha do Arvoredo (Rebio) pode não estar contendo a pesca ilegal na área protegida. Utilizando o método do censo visual (contagem de indivíduos), os pesquisadores do Laboratório de Biogeografia e Macroecologia Marinha, do Centro de Ciências Biológicas da UFSC, não detectaram diferenças significativas nos valores de biomassa (quantidade total de matéria) de espécies-alvo de pesca entre ilhas localizadas na reserva e em outras sem proteção.
Para chegar a esta conclusão, a equipe realizou 89 mergulhos, entre dezembro de 2007 e abril de 2008, em 10 pontos localizados em cinco ilhas. Três pertencem à reserva e são protegidas por lei (Ilha da Galé, Ilha Deserta e Ilha do Arvoredo) e duas não têm restrição explícita à pesca, mas são importantes patrimônios ecológicos (Ilha do Campeche e arquipélago das Ilhas de Moleques do Sul). De acordo com o método utilizado, segundo Diego Barneche, biólogo integrante do projeto, os três mergulhadores desceram a profundidades de 5m, 10m e 15m e anotaram as espécies identificadas em uma pequena placa de PVC para posterior sistematização dos dados.
Os resultados parciais mostram que, nas três ilhas localizadas na área da reserva, a massa total de espécies-alvo de pesca (como a garoupa e o badejo-mira) não teve significativas diferenças em relação às ilhas do Campeche e do arquipélago de Moleques do Sul – o que é curioso, já que estas não possuem restrição à pesca e a Rebio foi criada há 18 anos.
“Não é porque a reserva não funciona, é porque, provavelmente, tem muita pesca ilegal ali dentro”, aponta Diego, que se formou no Curso de Biologia da UFSC no meio do ano. Ele conta também que, de acordo com antigos registros, nas décadas de 50 e 60 eram encontradas, a profundidades semelhantes e em localidades próximas, garoupas muito maiores, além de meros e tubarões, o que também aponta para falhas na preservação da reserva. “É muito pouco provável que, se esses peixes que existiam há 40 anos ainda existissem, nós não tivéssemos registrado”, completa.
Os peixes predadores (alvo de pesca) são bons indicadores da saúde do ambiente marinho porque atuam na regulação das outras espécies. Estudos mostram que, em reservas marinhas com área similar à do Arvoredo, a biomassa destes peixes tende a aumentar e se aproximar do chamado “prístino” – um ambiente hipotético onde o homem nunca teria estado e, portanto, interferido no ambiente.
Estudo pioneiro
É a primeira vez que um estudo científico sistematiza dados sobre a ictofauna (fauna de peixes) em diversas ilhas de Santa Catarina, com diferentes graus de proteção contra a pesca. O projeto Ilha do Sul também é multidisciplinar: além dos estudos feitos com peixes, outros laboratórios parceiros estão quantificando algas, crustáceos, qualidade da água e outros organismos do fundo marinho. Além disso, é uma das poucas pesquisas que trabalha com recifes compostos por rochas, e não por corais, como a maioria.
Outra descoberta importante foi o registro inédito de cinco espécies em Santa Catarina durante os mergulhos. A Reserva do Arvoredo se localiza ao norte da Ilha de Santa Catarina, já a Ilha do Campeche e o arquipélago de Moleques do Sul ficam a leste.
Método sustentável
Embora esteja sujeito a consideráveis margens de erro, o censo visual tem como vantagem não agredir o meio ambiente. Outro método, por exemplo, mata todos os peixes com um veneno para que sejam contados. Diego diz, entretanto, que o mergulhador deve treinar e estudar bastante para memorizar as muitas espécies e identificá-las com rapidez.
O projeto conta com uma equipe de seis pesquisadores, é coordenado pelo professor Sérgio Floeter, do Departamento de Ecologia e Zoologia, e recebeu recursos do CNPq e da Fapesc.
Mais informações:
Laboratório de Biogeografia e Macroecologia Marinha
Departamento de Ecologia e Zoologia
(48) 3721-5521
Diego Barneche – diego.barneche@gmail.com