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quarta-feira, abril 24, 2024
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Designers gráficos de Florianópolis pedem a suspensão da votação da Marca Turística

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Designers gráficos de Florianópolis pedem a suspensão da votação da Marca Turística

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Uma carta aberta sobre o projeto Marca Turística de Florianópolis, realizado pela Prefeitura em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foi divulgada nesta quarta-feira, 15, por um grupo de designer gráficos que, apesar de não se identificarem, se apresentam como a "comunidade profissional" do setor na cidade. Para saber mais sobre o projeto, conhecer as marcas e votar na sua preferida, clique aqui.

Confira a íntegra da carta:

"CARTA ABERTA
DA COMUNIDADE PROFISSIONAL DE DESIGN GRÁFICO
A RESPEITO DO PROJETO MARCA TURÍSTICA PARA FLORIANÓPOLIS

Aos
Exmo. Senhor Prefeito de Florianópolis, Cesar Souza Junior,
Exma. Senhora Secretária Municipal de Turismo, Zena Becker, e
Exmo. Senhor Secretário de Estado de Turismo, Cultura e Esporte, Filipe Freitas Mello.

A comunidade profissional de design gráfico de Florianópolis vem através desta Carta Aberta formalizar o seu posicionamento a respeito dos resultados do projeto “Marca Turística de Florianópolis”, executado pelo Laboratório de Orientação da Gênese Organizacional da UFSC (LOGO UFSC) e recentemente colocado à votação popular pela Secretaria de Turismo.

Projetos que buscam fortalecer e impulsionar o setor turístico de Florianópolis devem ser valorizados por sua importância estratégica, econômica e cultural fundamental. Nesse contexto, o projeto “Marca Turística de Florianópolis” é uma louvável iniciativa. A exemplo de projetos exitosos de marcas de cidades ao redor do mundo, pretende reforçar e consolidar valores, personalidades e especificidades sociais, culturais e econômicas de um espaço territorial através de um sistema de identidade visual que apoia estratégias sólidas de comunicação local e turística. Também deve ser positivamente reconhecida a proposta de engajar distintos atores sociais da cidade no decorrer do projeto por parte do LOGO, a chamada metodologia cocriativa. Envolver comunidades locais, turistas, investidores, setor público e privado é um desafio que, se alcançado, contribui para a promoção de um sentimento real de construção coletiva e democrática. A marca gráfica, por sua vez, configura um produto simbólico desse processo ao reforçar valores genuínos, oriundos da participação de todos esses agentes.

No entanto, quando a comunicação visual apresentada é incompatível com os valores e ideias encontrados na etapa de planejamento e conceituação, a imagem – e até mesmo o propósito – do projeto “Marca Turística de Florianópolis” passam a ser comprometidos. Certamente, projetos como esse não começam nem terminam em sua marca gráfica, mas a construção de uma identidade visual sólida e consistente é parte estratégica e indispensável para o seu sucesso, uma vez que se converterá em um ponto de contato imediato do público com a cidade. Representar de modo coerente a identidade de Florianópolis é essencial para que a marca turística gere identificação tanto com os que aqui residem, quanto com seus visitantes e para que de fato se converta em valor.

A reação fortemente crítica da comunidade de profissionais das áreas de design gráfico, comunicação, publicidade, branding, marketing e áreas afins após o lançamento das propostas para a marca turística de Florianópolis – Minha Florianópolis, Movimenta Florianópolis e Tecendo Florianópolis – põe em questão a qualidade dos resultados apresentados. A repercussão da notícia em jornais, blogs especializados, redes sociais e nos próprios meios de divulgação do projeto tomou grandes proporções e é sintomática da recepção negativa das propostas.

Uma das principais questões problematizadas em relação às alternativas sugeridas para votação é que elas não atendem a princípios básicos que caracterizam uma boa e duradoura identidade visual. Apresentam graves problemas técnicos, estéticos e comunicacionais. As propostas não refletem o caminho traçado nas etapas iniciais de pesquisa e conceituação do projeto e não conseguem representar de maneira satisfatória a identidade da cidade.

Dentre os problemas, vale ressaltar:

Excesso de Complexidade e Legilibidade Problemática 

Quanto às suas formas, as propostas são excessivamente detalhadas e profusas, especialmente os símbolos, dificultando o entendimento imediato e memorização das informações apresentadas, bem como a expressão dos conceitos caracterizados como o DNA da marca.

Dificuldade de Redução 

Uma marca deve manter a visibilidade dos seus elementos mesmo em tamanhos muito reduzidos. As propostas elaboradas, aparentemente, não apresentam condições de aplicação nesses casos. Ao diminuir o símbolo, as representações visuais ficariam irreconhecíveis e o problema da legibilidade se agravaria.

Possível Inaplicabilidade 

A marca deve ser versátil o suficiente para ser aplicada aos mais diversos meios e suportes mantendo sua consistência. Em razão da complexidade das formas e paleta de cores demasiadamente ampla, é muito provável que as marcas apresentem problemas de aplicação em alguns tipos de suportes. As versões monocromáticas das marcas, que sequer foram apresentadas, deverão sofrer severas adaptações que poderão descaracterizar as propostas iniciais.

Qualidade Tipográfica 

As letras utilizadas para escrever “Floripa” e “Florianópolis” apresentam inconsistências técnicas (problemas de espacejamento, traços com espessuras irregulares e caracteres de difícil leitura) comuns em tipografias amadoras ou ainda em desenvolvimento. Tais deficiências formais, somadas a uma falta de personalidade, não condizem com a abrangência e representatividade esperadas deste projeto.

Linguagem Gráfica Inadequada e Demasiada Literalidade 

Há uma certa ingenuidade na linguagem gráfica utilizada, incompatível com a qualidade que uma marca deste porte requer, resultando em soluções visuais muito frágeis. Vários dos signos visuais presentes nos símbolos, que buscam fornecer uma representação direta e evidente de diversas características da cidade, além de profusos são excessivamente literais. Quando analisamos projetos de design não podemos falar simplesmente em soluções boas ou ruins, mas adequadas ou inadequadas.

Falta de Sistematização 

Outro aspecto que não fica claro é o funcionamento das propostas como um sistema de identidade visual. O símbolo e o logotipo, apesar de essenciais, não necessitam ser seus únicos elementos. A marca é apenas o início do processo de design de uma identidade. Grafismos adicionais, pictogramas e família tipográfica de apoio são alguns desses recursos que, quando existentes, devem ser contemplados em uma apresentação inicial. O sistema deve ainda prever grande parte das possíveis e prováveis aplicações. De acordo com material disponível (disposto no site discretamente como press kit), não ficam claras as regras de aplicação utilizadas, e não é possível avaliar se as identidades serão flexíveis e consistentes o suficiente para funcionar como um sistema. Algumas das sugestões são bastante genéricas e distantes de um cenário real de utilização.

Pelos motivos acima dispostos, sugerimos que a votação para a escolha da marca turística de Florianópolis atualmente em curso seja imediatamente interrompida, evitando as consequências negativas de imagem, políticas e até mesmo econômicas que o prosseguimento desse processo e aprovação da nova marca acarretariam. Sugerimos, cordialmente, que a SETUR abra o debate junto à comunidade profissional sobre os rumos do projeto, levando em conta suas colaborações.

Como designers, temos o compromisso não somente com a boa prática profissional, mas com a formação de um discurso crítico a respeito do nosso fazer. Alinhados com a ICO-D (Conselho Internacional de Design), que sugere que os designers devem ser justos em suas críticas sem a intenção de depreciar o trabalho ou a reputação dos colegas, nossa intenção ao formalizar um posicionamento a respeito dos resultados do projeto “Marca Turística de Florianópolis”, não é de modo algum difamar profissionalmente colegas ou personalizar críticas, mas zelar pela qualidade da prática e manifestar de modo fundamentado nossa preocupação quanto aos problemas identificados.

Florianópolis, 15 de julho de 2015."

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